O sol “nasce” todos os dias, estejamos nós o vendo ou não e aqui no nordeste ele nasce primeiro, quanto mais subimos mais cedo ele aparece porém na madrugada deste dia 28/08/2017 aqui em João Pessoa acordei antes mesmo do Sol aparecer, às 02h acordei com uma dor terrível no estômago, a sensação era de que tinha uma furadeira abrindo um buraco, infelizmente esta sensação não me era estranha pois convivo com a esofagite ha alguns anos e nesta mesma viagem já tive uma crise, na cidade de Esquel na Argentina, como daquela vez, passei a noite toda acordado, com dor e abraçado ao vaso sanitário. Tomei os medicamentos de sempre, mylanta e pantoprazol e esperei a dor passar, sim tinha esperança que iria passar, neste mesmo dia precisávamos sair da casa que estávamos e seguir viagem, mas devido a esta crise resolvemos ficar por mais um dia pelo menos e procuramos um lugar com internet para podermos atualizar algumas informações já que pelo jeito o dia não seria de passeio mesmo.
Chegamos em outro Flat por volta das 13h e saímos para comer, embora eu não tivesse nenhuma apetite, consegui comer um pouco no restaurante Mangai, bem perto de onde estávamos, voltamos para o Flat e a esta altura a dor no estômago havia aliviado. Percebi que alguma coisa ainda estava estranha pois restara uma dor “diferente” do lado esquerdo do abdomem, doía quando eu me movimentava, quando respirava, quando abria os olhos, quando fechava, bom… doía sempre e estava aumentando, ficamos o resto da tarde quietos esperando que melhorasse, a noite foi tensa.
No outro dia cedo tentamos mais um dia neste mesmo flat pois pelo jeito não conseguiríamos seguir viagem também, o flat já estava reservado para o dia seguinte e procuramos outro lugar, seguimos para uma pousada que vimos no site do Candeias (chegando lá ninguém nem sabia o que era o Candeias). Continuei com muita dor e dificuldades para andar e respirar fundo, estava sem apetite e tentei dormir para recuperar um pouco o sono perdido das últimas duas noites.
A Andréia vendo minha situação me intimou a ir a um médico, eu raramente gosto disso, mas a dor era tanta que concordei e fomos para a UPA mais próxima, unidade Oceania em João Pessoa.
Chegamos lá umas 16:30 e fomos bem atendidos, exame de sangue e buscopan na veia para aliviar a dor, enquanto aguardávamos o resultado do exame de sangue saímos para almoçar, já eram umas 18:30, voltamos e o resultado estava pronto, indicando inflamação e o procedimento seria ir até um hospital para fazer um exame de ultrassom, porém para ir até lá seria necessário ir de ambulância que sairia depois das 20h, teríamos ido por conta própria mas fomos instruídos a esperar e ir de ambulância mesmo.
Pouco depois das 20h, partimos até o Trauminha de Mangaba, para quem conhece seria como o hospital do Trabalhador em Curitiba, lá o movimento era bem maior, hospital de traumas e muita gente chegando a todo momento, a Andréia teve que esperar na recepção e eu entrei para o ultrassom, depois de umas duas horas já estava com o resultado, Colecistite Aguda (inflamação na vesícula), eu já sabia da pedra então não cheguei a me surpreender com o diagnóstico. Com o exame em mãos seria necessário aguardar para conversar com o médico de plantão o que aconteceu por volta das 24h, não lembro o nome da médica que me atendeu, mas o atendimento foi excelente e a indicação foi de cirurgia de emergência para a manhã de quarta feira, a cirurgia seria da forma “tradicional”, pois não havia equipamento de vídeolaparoscopia disponível no hospital, claro que a Andréia não poderia ficar comigo e teria que me visitar nos horários específicos para isso, a alta deveria ser em uns 3 ou 4 dias e mais uns 10 de recuperação. Neste momento a Andréia já estava comigo e tivemos que decidir o que fazer da vida… depois de pensarmos muito nos prós e contras decidimos ir embora e procurar um lugar para fazer a videolaparoscopia mesmo e que pudéssemos ficar juntos. Chamamos a ambulância, voltamos para a UPA, conversamos com o médico que nos sugeriu procurar atendimento ainda de madrugada, tentamos mas nos dois hospitais indicados não havia antedimento de emergência com gastro disponível, um terceiro pediu um pagamento de R$ 50.000,00 para o atendimento. Esperamos mais algumas horas e assim que amanheceu fomos ao primeiro hospital, não havia gastro para nos atender, ligamos para outro, o Samaritano, que nos indicou um médico, Dr. Gustavo, liguei para ele por volta das 08h da manhã e fui prontamente atendido, nos instruiu a ir até o hospital que alguém da equipe dele estaria lá para nos atender, por coincidência outro Dr Gustavo, desta vez o Gustavo Marques, assim fizemos, chegamos lá conversamos com ele e já providenciamos o internamento para a cirurgia naquele mesmo dia às 19h.
Já fiz duas cirurgias antes, uma de coluna (hérnia de disco) e outra de tornozelo, em ambas, tive oportunidade de conversar e conhecer os médicos antes, até para sentir confiança e realizar o procedimento, mas neste caso como era emergência não tive esta possibilidade, mas as coisas aconteceram da melhor forma possível, sabe quando há empatia e logo de cara vc já confia na pessoa/ foi assim com os dois Gustavos, atendimento e conduta impecável. Internamento realizado, muito medicamento e soro na veia e a espera até o final do dia para a tal cirurgia, a dor era muita, o medo era presente, mas estávamos juntos no mesmo quarto, eu e o meu anjo da guarda, que me cuidou a todo momento, passando segurança e exibindo um sorriso que era mais eficaz que os vários remédios que estava tomando.
E é isso, o maqueiro vem te buscar, vc passa pelos corredores deitado olhando para o teto, a maca empaca no elevador, aí chega na sala de cirurgia, os médicos e a equipe te cumprimentam, conversam entre si, vc sente alguma coisa gelada nas veias e não lembra de mais nada, até que acorda meio zonzo sem saber muito bem onde está e o que está acontecendo mas, neste caso, com uma certeza, a Andréia estava ali me esperando, com aquele sorriso que faz passar qualquer dor e que ajuda a curar qualquer ferida.
Depois disso, dias de recuperação e um pouco de tédio, afinal estavamos em uma cidade linda com um tempo incrível mas não podíamos conhecer pois apesar do médico ter liberado para passear um pouco a vontade de ficar em casa era maior, muitos remédios pouca alimentação… pelo menos ajudou a perder peso.
Versão da Andréia: Meu marido passou mal domingo a noite inteira e eu queria levá-lo no médico, sem sucesso, tentava dormir mas a preocupação com ele não permitia, segunda acordou muito mal resolvemos ficar em João Pessoa, ele não melhorava, eu querendo levá-lo ao médico e nada, na terça continuamos na cidade e por fim eu briguei com ele pra conseguir levar ao médico. Fomos no UPA Oceania e tenho muito a agradecer, todos os profissionais que nos atenderam muito bem, depois do exame de sangue fomos almoçar, mas eu já estava desconfiada da vesícula tanto que pedi ao Sandro pra levar seus exames pro médico e não deu outra, a médica suspeitou da vesícula também e o mandou pro trauminha, onde eu fiquei por 2 horas em pé sem notícia alguma, aflita, pedi a assistente social se eu poderia entrar pra saber dele, expliquei que era de Curitiba e estávamos só nós dois ali em Jampa e ela entendeu e me deixou entrar por volta das 22h, a médica atendeu o Sandro às 24h e não me deixou entrar com ele, fiquei de cara porque conheço o teimoso do meu marido e sei que não se informa direitinho sobre as possibilidades, quando ele saiu já estava certo iria fazer a cirurgia às 8 da manhã, mas faria aquela que tem que abrir a barriga e dar vários pontos, detalhe ele ficaria ali internado e eu iria embora sozinha de madrugada para a pousada e é lógico que eu nem sabia onde eu estava. Confesso que até ai tudo bem, mas eu ficaria sem poder falar com ele até o horário de visita, ou seja, ele entraria pra fazer a cirurgia e sairia dela sozinho, isso me deu um desespero que não pude conter as lágrimas, então pedi a ele que fosse embora comigo aí procuraríamos um hospital e ele faria por video que é muito menos agressivo e eu poderia estar com ele o tempo todo. Assim fizemos, mas antes assinamos um termo de responsabilidade por sair do hospital num caso de emergência, já saímos dali procurando um lugar e não encontrávamos e isso me deixou mais uma noite sem dormir direito. Na quarta feira, conseguimos interná-lo pela manhã, ele estava pálido de dor e aquilo me apertava o coração, às 19h30 saiu para a cirurgia, o Dr. Gustavo (muito atencioso) me disse que a cirurgia demoraria 40 min. Passados 2h30 eu estava bem apreensiva, só não fiquei desesperada porque pensava: “estão esperando passar a anestesia, a cirurgia é simples nada vai dar errado”. Umas 22h30 o Dr. Gustavo entra no quarto e me diz que a cirurgia foi bem complicada, que a vesícula estava necrosada e que havia vazado na hora de clipar para retirada, juro que o pior me veio a cabeça, entrei em desespero, lembro que ele estava falando quando eu o interrompi perguntando se Sandro estava bem, e foi um alivio ouvir que sim. Pediu que ficássemos mais um dia no hospital e que aumentássemos nossa estadia na cidade por pelo menos 1 semana. Foi o que fizemos, aproveitei este tempo pra mimar meu maridinho, fazer comidinhas leves e cuidar para que ficasse bem logo.